sexta-feira, 9 de outubro de 2015 3 comentários

Análise do poema "Vou-me Embora pra Pasárgada" de Manuel Bandeira


Vou-me Embora pra Pasárgada

(Manuel Bandeira)

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Análise

    Manuel Bandeira, deixa bem clara a ideia de uma evasão para outra realidade do poeta, observando assim, uma das temáticas deste poema,ou seja, uma busca de um lugar perfeito (paraíso) para a passagem de atos comuns da vida. Observamos características que demonstra a biografia do poeta no poema, a partir da influência das aspirações do poeta em buscar felicidade, impedida por problemas pessoais.

Características:
  • A busca de uma escrita direta e simples, apesar de conhecer formas clássicas de estruturação de poemas;
  • Doente, ou seja, pelo medo de morrer, colocava a angustia em obras;
  • Alguns poemas colocava sua busca pela alegria da vida, como retratado em passagens, fictícias, criadas por ele, neste poema;
  • A lembrança da infância;
  • Tradicionalismo e liberdade entre poemas. Ex.: Morte, amor, solidão, até mesmo o erotismo e a infância;
    Neste texto, outra figura temática, é o uso da intertextualidade, utilizada nesse poema com comedias, ou melhor, retomada do poema romântico com ideais sarcásticos.

    Vemos nitidamente, as configurações de espaços entre o cá e o lá, onde o cá é algo hostil e um lá acolhedor, construindo uma oposição entre esse ‘cá’ e ‘lá’, de modo com que protegesse um futuro a se tornar real.

    Como vemos, pela a imaginação, o poema nos da uma inspiração para a criação de uma razão entre oque é fictício e oque é periódico que queremos modificar, permitindo com que a imaginação, psicologicamente crie o seu “ideal”, eliminando suas cargas sociais.


Feito por: Gabriel Oliveira
sexta-feira, 9 de outubro de 2015 1 comentários

Análise do Poema "Lisboa Revisitada" de Álvaro de Campos

Lisboa Revisitada

(Álvaro de Campos)

Não: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) –
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-a!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro a técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havermos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja a companhia!
Ó céu azul – o mesmo de minha infância –
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!


Análise

Características modernistas presentes no poema de Álvaro de Campos:
  •          Versos livres;
  •          Estrofes heterogêneas;
  •          Linguagem coloquial, informal.

     Desde o começo do poema o sujeito poético passa um tom de irritado, revoltado ao seu discurso, que se caracteriza pelas negações: as conclusões, as estéticas, a metafísica, a moral, os sistemas completos das ciências, das artes e da civilização moderna, a verdade, por exemplo, no verso – Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!), podemos observar com maior clareza a postura irônica do sujeito poético perante os valores por ele negados.

    Na sexta estrofe o sujeito poético se define como um técnico e, simultaneamente, como um “doido”, como pode ser visto nos versos: "Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro a técnica";"Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo".

    Na sétima estrofe percebemos a divisão entre racionalidade (técnica) e irracionalidade (loucura). A ironia faz referência ao modo de vida burguês, com suas instituições, comportamentos rotineiros comuns, como pagar impostos, a suafalta de coerência em relação ao mundo em que vive, como no verso: "Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?".

    O sujeito poético também se apoia na morte e na solidão para renegar esses valores do mundo, revelando sua marginalidade, seu desajustamento em relação a vida.



Feito por: Paulo Ferraz
quinta-feira, 8 de outubro de 2015 4 comentários

Análise do poema "No meio do caminho" de Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho

(Carlos Drummond de Andrade)

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra


Análise

            
    Quando Carlos Drummond de Andrade escreveu o poema “No meio do caminho”, a literatura estava em sua faze mais romântica e com grande rigor tanto sintático como formal, sendo a estrutura deste poema totalmente diferente e até mesmo sem sentido dependendo do ponto vista causou uma grande controvérsia na época, de um lado estavam os modernistas que reconheciam como uma manifestação dos novos valores literários da época, e do outro lado a opinião pública que vis o poema como um desrespeito da nova geração de poetas em relação ao público leitor. 

    Este poema pertence a segunda geração modernista e uma das características que são explicitas no poema e que chama mais a atenção é a redundância, ou seja, há diversas palavras e versos repetidos como “tinha uma pedra”. Há também um desvio da norma culta como no uso do verbo ter em lugar do verbo haver, como isso em vez de entender a pedra como um obstáculo, a considera parte de si.

    A principal ideia do poema é fazer uma metáfora com vida, a pedra seria um problema que alguma pessoa encontraria ao longo de sua vida e que ela se lembraria desta “pedra” durante toda a sua vida sempre que passasse por alguma dificuldade, ou seja um momento marcante.

    Carlos Drummond de Andrade foi um marco na literatura brasileira, sempre querendo sair do padrão romântico de sua época e dar um novo rumo a literatura, que não se baseasse apenas em amor, mas em qualquer coisa na vida.


Feito por: Gabriel dos Santos
domingo, 4 de outubro de 2015 10 comentários

Análise do Poema "Poética", de Manuel Bandeira.

POÉTICA

(Manuel Bandeira)

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e
[manifestações de apreço ao Sr. diretor

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho verná-
culo de um vocábulo
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com
cem modelos e cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.


Análise

    Ao lermos o poema podemos perceber logo de cara, que pertence a estética modernista, pois há utilização de versos livres, de repetição e alguns retratam imagens negativas sobre os valores dos movimentos anteriores, estas formas são um belo exemplo da escrita do modernismo, caracterizando bem o versilibrismo ( movimento que adota o uso do verso livre, não utiliza as regras tradicionais tanto na métrica e na versificação, o qual baseia seu efeito poético principalmente no ritmo.) 

    Poética de Manuel bandeira é um bom exemplo de modelo da estética modernista, ele utiliza de linguagem cotidiana para ressaltar a negação dos valores poéticos passados, com o intuito de promover uma renovação na mente artística. Podemos perceber duas ideias no poema: a repulsa de elementos regulamentares, os quais transformam a arte em regras a serem seguidas e pregação de um sentimento natural, sem censuras e proibições.

  A introdução do poema deixa claro está imagem contestatória, pois ele utiliza a repetição, mostrando assima ruptura, um desagrado com o poética utilizada, esta repetição está na forma verbal: “Estou farto”. 

Estou farto do lirismo comedido ... 

Estou farto do lirismo que pára ... 

Estou farto do lirismo namorador... 

   Outra estética que o poeta crítica e ironiza é a romântica. Isto é evidenciado quando o Bandeiras escreve: 

"Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo."

    Ao utilizar as palavras, Namorador, Politico , Raquítico e Sifilítico, o poeta nos lembra a ideia de amor exagerado, idealizado, romantismo, amor a pátria, mal do século e sofrimento, o qual é abordado os principais aspectos utilizados, por poetas românticos e com o uso da Repetição afirmar estar farto de tudo isso. 

   Em si Bandeira critica a os valores ultrapassados das estéticas anteriores, afirma a ideia de uma poética mais livre, critica as regras utilizadas, e defende uma nova forma de lirismo, livre de todos os valores passados, busca uma literatura genuinamente nacional, sem os valores conservadores.


Feito por: Israel Zacaroni

 
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